Produzir vídeos para o YouTube, algo que durante três anos representou um passatempo para milhões de internautas, agora se tornou maneira de ganhar a vida. Um ano depois que o YouTube, o líder entre os serviços online de vídeo, convidou os usuários a se tornarem “parceiros” e acrescentou publicidade aos seus vídeos, os mais bem sucedidos entre eles estão faturando centenas de milhares de dólares anuais com o site. Para alguns, como Michael Buckley, um autodidata que apresenta um programa de humor sobre celebridades, filmar vídeos engraçados virou trabalho de tempo integral.
Buckley largou o emprego em setembro, depois que seus lucros no YouTube deixaram muito para trás o salário que recebia como assistente administrativo em uma produtora de música. Seu programa online, atualizado três vezes por semana, é uma “bobagem”, como ele diz, mas o ajudou a zerar as dívidas de seus cartões de crédito.
Buckley apresentou durante algum tempo um programa em um canal de TV de acesso aberto em Connecticut, em 2006. Um primo começou a postar trechos do programa no YouTube. As digressões cômicas sobre celebridades se tornaram populares entre os espectadores online e Buckley não demorou a adaptar seus segmentos à linguagem da web. Ele conta que sabia que o programa “não poderia avançar muito mais em um canal público”. “Mas no YouTube”, ele conta, “eu já tive 100 milhões de visitas. É uma loucura”.
E tudo que ele precisou comprar foi uma câmera Canon de US$ 2 mil, um pedaço de tecido de US$ 6 para servir como fundo e um par de refletores da Home Depot. Buckley serve como prova do efeito democratizante da Internet sobre o conteúdo. Sites como o YouTube permitem que qualquer pessoa equipada de conexão em alta velocidade encontre fãs, simplesmente pela postagem e divulgação do material na rede.
Mas é fato que expandir a audiência requer muito tempo. “Eu estava dedicando 40 horas por semana ao YouTube por quase um ano antes de começar a ganhar dinheiro”, disse Buckley. No entanto, ao menos em alguns casos, o esforço está compensando.
Buckley é um dos membros originais do programa de parcerias do YouTube, que agora inclui milhares de usuários, de grandes estúdios de cinema a pessoas que gravam vídeos no porão de casa. O YouTube, uma subsidiária do Google, coloca anúncios nos vídeos e no site que os hospeda, e a receita auferida é dividida com os produtores. “Queríamos transformar esses hobbies em negócios”, disse Hunter Walk, diretor de gestão de produtos do site, que classifica os usuários populares como Buckley de “empresas não intencionais de mídia”.
O YouTube se recusa a revelar quanto os parceiros faturam, em média, em parte porque a demanda publicitária varia de acordo com a espécie de vídeo em questão. Mas um porta-voz, Aaron Zamost, disse que “centenas de parceiros do Google estão faturando milhares de dólares mensais”. Ao menos alguns destes decidiram viver disso; Buckley, por exemplo, afirmou que sua renda com a publicidade vinculada aos seus vídeos no YouTube superava os US$ 100 mil ao ano.
O programa de parcerias representa solução parcial para um problema persistente para o YouTube. O site tem dez vezes mais vídeos do que qualquer outro serviço de vídeo dos Estados Unidos, mas o Google vem encontrando dificuldades para descobrir como lucrar com isso, porque a vasta maioria dos vídeos é postada por usuários anônimos que podem ou não ser os titulares dos direitos autorais sobre o conteúdo que sobem para o site.
Embora o YouTube tenha bloqueado boa parte da distribuição ilegal de vídeos no site, continua cauteloso quanto a permitir publicidade vinculada a conteúdo sem que os proprietários deste concedam autorização explícita. Como resultado, apenas 3% dos vídeos que o site têm em exibição oferecem publicidade.
Mas a empresa tem grandes esperanças quanto ao programa de parceria. Os executivos o comparam ao Google AdSense, a tecnologia que revolucionou a publicidade e tornou possível a operadores de conteúdo publicar anúncios em texto em suas páginas. “Algumas dessas pessoas fazem vídeos nas horas vagas”, disse Chad Hurley, co-fundador do YouTube. “Nós sentíamos que se fosse possível fornecer a elas uma verdadeira fonte de renda, poderiam aperfeiçoar seus conhecimentos e oferecer conteúdo ainda melhor”.
Em um momento de demissões no setor de mídia, essa fonte de receita ¿ e a perspectiva de empresas pessoais de mídia – pode parecer atraente aos usuários. Mas produtores de vídeo como Lisa Donovan, que posta seu trabalho no YouTube e atraiu atenção nos últimos meses por suas paródias à governadora Sarah Palin do Alasca, não parecem considerar que a idéia seja fácil. “Para um novo usuário, é preciso muito trabalho”, ela diz. “Todo mundo está batalhando para ser visto online; é preciso ter uma estratégia e saber se divulgar”.
Buckley, que se formou em Psicologia na faculdade e vive com seu marido e quatro cachorros em Connecticut, grava o programa em casa. Cada episódio atrai em média 200 mil visitas, e os mais populares já chegaram à marca de três milhões. Ele diz que escrever e gravar os cinco minutos de piadas sobre a turnê de retorno de Britney Spears e o talento de Miley Cyrus para a dança não é tão fácil quanto parece. “Eu tive de me esforçar para melhorar minha redação e meu desempenho diante da câmera”, ele disse.
Com o crescimento do tráfego e da receita, Buckley vinha encontrando “tantas oportunidades online que não valia mais a pena trabalhar”. Ele deixou seu emprego na LiveNation, uma produtora de música, e agora se dedica em tempo integral ao programa na web.
Alguns dos demais parceiros do programa são grandes empresas de mídia; as que oferecem mais vídeos são Universal Music Group, Sony BMG, CBS e Warner Brothers. Mas os usuários individuais agora podem concorrer com elas.
Buckley, que nem mesmo tinha acesso de banda larga à Internet dois anos atrás, diz que seu hobby mudou sua vida financeira. “Eu não comecei essa empreitada pensando em ganhar dinheiro”, disse, “mas acabei tendo uma boa surpresa”.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
Brian Stelter
16/12/08